Família Fernandes: Madeira - Niterói
Conheci Márcia Fernandes em Outubro de 2015 no Rio de Janeiro, no âmbito da minha pesquisa de doutoramento sobre fotografia afecta ao fenómeno migratório português para o Brasil. Márcia é formada em Museologia pela Unirio. Encontrámo-nos duas vezes em Botafogo, onde me mostrou imagens da sua família, de origem madeirense, a qual, nas décadas de 1950 e 1960, migra em várias vagas para a Venezuela, Boston e, sobretudo, para Niterói. É ali que Márcia irá nascer e não já na Ribeira Brava ou na Fajã dos Padres, como seus pais ou irmão mais velho. A estes contactos iniciais, seguiu-se um encontro também com sua mãe, Eugénia, na casa de família em Niterói, a 26 de dezembro de 2015. Desde então, temos mantido contacto e aprofundado a pesquisa das imagens e narrativas familiares, tendo Márcia revelado-se uma fundamental interlocutora e mediadora da minha investigação sobre fotografias afectas a trânsitos migratórios, a qual tenho apresentado em conferências, livros de autor e, mais recentemente, numa série de artigos publicados no Diário de Notícias da Madeira (2021). O seu contributo permitiu-me alargar o "corpus" de imagens em análise, apurar/corrigir informações sobre imagens específicas, e trazer agora a público esta série fotográfica não já unicamente baseada nas imagens que serviram de meios de comunicação entre Portugal e o Brasil, mas que se afirmam como fragmentos e "mementos" de uma narrativa familiar circunscrita às décadas de 1950 e 1960. Elas integram-se no fenómeno migratório madeirense daquele período e, de algum modo, representam parcelarmente uma ideia de quotidiano rural/agrícola da ilha.
É porventura neste espaço virtual que se encerra esta colaboração, (pela qual muito agradeço) com a mostra de uma selecção alargada de imagens digitalizadas por Márcia a partir dos baús de família, e da explanação da memória, não sem tensões e contradições, a partir dos fragmentos fotográficos.
Ana Gandum